quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019


Regrets








O tempo passa a “avua”. Avua. Corre feito águia de asas. Asas de águia. Asa de água. Assa a água. A água avua. Agora vai, vai que vai sem sentido nem nexo, nem sexo. Já faz tempo. Ah, esse bandido que leva a gente sem sentido, sem sentir, daqui pra lá, de lá pra acolá e quando vemos, não vemos mais de onde viemos. A vista cansada se desgastou e cansou. Nem óculos, nem “zóclus” ajudam. Já não prestam num crânio pelado que o tempo levou. Sem asas não avua mais, sem vista tá enterrado na terra. Este desterrado só agora conseguiu um lugar que o valha para cobrir seus restos. Agora nada mais lhe resta além de um punhado de poeira que lhe entra pelos ossos, lhe pesa no corpo sem vida. Nem larvas lhe querem mais, pois a carne já se lhe foi. Acabou-se o doce, o amargo e nada mais lhe resta nos restos. Nem língua tem mais, mingou com o resto engolida pela terra. Não presta mais para nada. Agora nesta terra que nunca foi sua já não “veve” mais. Outras paragens “sualma” terá de vagar, devagar, viajar. Já. Sai daqui moribundo, vagabundo, vai vagar, viajar por outro lugar, que esse não lhe pertence e nunca pertenceu. Daqui nada, além de nós mesmos, é nosso. Nem a carne que a terra já comeu, nem o osso que o cão não quis e não pôde roer. Nem os cabelos que continuaram a crescer um pouco depois e o vento não pôde levar. Tudo ficou no chão, no caixão que também não é seu. Foi pago por outros que não você, que nunca pensou em sua morte. Sorte não ter essa despesa a mais, não é mesmo? Mas o que importam agora as dívidas terrenas se o que você deve vai fundo no seu coração? Não esse que bateu de porta em porta, mas esse que você leva consigo mesmo no íntimo? Olhe-se no espelho d’alma e veja o que realmente carregou pra si. Depare-se e pare de se agarrar ao nada. O hoje é seu. Só ele. Nem o ontem e nem o amanhã. Só o agora. Aproveite bem suas lembranças boas, pois as ruins irão te assombrar. Vá se lavar dos pecados com o brilho dos seus olhos lacrimejantes de arrependimentos. “Saiam de mim, míseros restos” de apego ao velho. Venha, homem novo, pra luz que te espera nos seus arrependimentos e futuras ações no seu melhor.

domingo, 30 de dezembro de 2018

Tempo, tempo, tempo, tempo


E saiu isso das minha páginas matinais:
Quase lá em 2019, coisa boa de se ver, ano caminhando pro final, se renovando...
Engraçado como a gente gosta e precisa contar. Temos que ter um marco, um lembrete pra tudo, senão não ficamos sossegados; um marca-passo, um marca-tempo, tem que ter um ponto onde a gente se apegue, se agarre pra não nos perdermos nesse mesmo tempo. Os dias e noites vêm e não há quem segure o tempo só porque deixamos de contar as horas, dias, ou até contou religiosamente. Como disse o poeta: "o tempo não para." Nunca, e não parará! Isso é fato consumado infindamente. Aliás, o próprio infinito tem uma eterna ligação com o tempo. Ligação de amor ou ódio?
Nenhuma delas. Por que insistimos em humanizar o que não é humano? Estranho se nós mesmos, quando vemos alguma crueldade, fazemos uma alusão a ser mais humano como se não fossemos ainda cruéis.
Já dizem que a criança é cruel, mas que é inerente nela não ter a famosa "maldade", mas elas são as primeiras a apontarem o dedo e sentenciarem: "Foi ele!" Acusam e falam a verdade nua e crua e, também inventam as mentiras que lhes convêm. Falar da ingenuidade da criança é tão natural como fazer "nhóóóóóóó" quando algo de fofo sai do mesmo serzinho. Inusitado seria não rirmos das tiradas impagáveis, das sacadas milenares de um pirralho de 4, 5 anos e sabedoria pueril de quem nos ensina aprendendo.
Enfim, somos todos espíritos velhos em corpos de carne nova. É nova até enrugar, cansar e se desprender, independente o quanto a gente se apega na vida. Parece que nós nos agarramos no tronco mais à mão quando a enxurrada fatal quer nos levar pro inevitável fechar d'olhos.
Aqui acaba também, sabia? Mesmo se não for assim tão doce. Mel ou fel, ninguém é de ferro. Sim, queremos ir "prum" céu ou nirvana, mesmo sem banda, nem cortejo angelical.
But, num sei se é bem assim quando partimos desta para melhor. Ou pior? Nahhhh. Pior é perder tempo (lembra dele?) pensando demais sobre o destino que não nos pertence e esquecer de fazer o que precisamos por aqui mesmo. Tanta gente pra abraçar, perdoar, ajudar, gato, cachorro pra acariciar, etc, etc...
Neste caso, pensar no futuro final (distante, esperamos) é totalmente tolo e inconsequente, apesar de que, depois de uma certa idade, é apego mesmo. Sempre ficamos com o pé atrás pra não ficar com ele muito perto da cova. Queremos inimizade com a anoréxica druida gótica. Seu nome que não podemos pronunciar.
Deus me livre, já diriam os ateus.


Realidade Virtual







Oi. É hoje, é hoje que eu vou dar uma reviravolta na vida. É hoje que eu lanço os dados. Faço a coisa certa e rolo o lance. Olho no lance e no lanche. Como uma letra muda tudo. Como uma letra com garfo e faca, engulo as palavras ao falar. Fraseando tudo, cada frase. Ando com as próprias pernas ao pé da letra. Ando, porque navegar também é preciso, pelas redes da net e assim uso das letras no mar do invisível, aranha à bordo, bombordo e estibordo, num bombardeio de ideias espalhadas nessa teia de gente. Tanta, tanta gente, pessoas desconhecidas se tornam melhores amigos ocultos à olho nú. Nunca te vi, sempre te amei, te curti e te segui, como stalker nesse caminhar do andor, sem nunca falar com você. Sem verbalizar e ouvir sua voz ao vivo. E vivo nesse mundo virtual sem saber qual é o real.

domingo, 22 de junho de 2014

Quero mais





Preciso de mais. Mais tempo pra mim, mais espaço no dia pra escrever, pensar, repensar... Eterno reclamar. Putz, não dá pra esperar a inspiração aparecer pra destilar lindas palavras. Preciso escrever e escrever e escrever... Treino constante com as letrinhas, jogo de xadrez comigo mesma, pulando de quadrado em quadrado pra expressar o que quero dizer e nem sempre sei o que quero... dizer.
Só sei que preciso, que preciso dar continuidade, andar para frente, pro xeque-mate, me mate, me mate em títulos, frases e vírgulas, ponto. Ponto final que pode ser um começo de tudo, travessão! Fala, exclamação!!!! Diga o que tem que dizer, não enrole, não se enrole com elas, as palavras, as línguas, os movimentos voluntários desse músculo versátil, versado em produzir sons e provocá-los.
Músculo que produz sons... (nunca tinha pensado assim sobre a língua).
Hum, boa reflexão pra retomar algo que deveria me tomar, sempre, hoje e agora. Momento já!
Escapar da rotina, mas fazer dela um desafio, algo saudável e necessário. Não no sentido de estagnação, mas continuidade. Caminho percorrido.
Não precisa ser todo dia tudo igual, mas precisa ser todo santo dia. Acordar, levantar, continuar. Exercício constante, mente polida, embuída de vontade.


Pronto falei!

sábado, 26 de janeiro de 2013

Luzes dos meus passos

Sigo andando. Meus passos me levam para frente, com minha sombra muito maior do que eu mesma, dependendo dos postes de luz por quais passo. Hora aumenta, hora diminui, mas ela está sempre ligada a mim. A sombra. Ela nunca vai me abandonar, nunca. É por meio da sombra que sigo também a poesia da luz, ou a ausência dela (da luz, não da poesia). Essa outra já é bem vibrante quando chego no ponto de ônibus. O que ofusca minha vista é o luminoso junto ao banco, contornando uma figura feminina que está à espera do coletivo. Sua silhueta negra já de longe dá um descanso aos meus olhos e asas à minha imaginação, que insiste em forçar a vista para imaginar os contornos de claro e escuro que devem estar ali, mostrando os detalhes que a escuridão apagou de seu rosto. Chego mais perto e perco o interesse, pois é o luminoso do ônibus que me chama a atenção nesse momento. Não, não é o meu. A silhueta, agora com rosto, entra e vai-se embora, já iluminada pelas luzes do coletivo. Luz meio apagada, meio piscante. Eu fico, vejo as mesmas irem embora riscando a noite. Mais carros passam, mais riscos vermelhos, brancos, amarelados, neon - que luz incômoda, essa, devia ser proibida. Ah, chegou o meu ônibus. Esse que serve pra mim, meu caminho, minha parada. O motorista me convida a entrar, quase vejo meu reflexo de relance na porta. Entro, cumprimento e entro no comprimento de onda dessa mesma luz fluorescente, piscante, meio morta do ônibus. Acho um banco iluminado e vazio, ali, logo depois da catraca. Sento. Ufa, cansei. Dia longo, me perco de novo nas luzes riscantes lá fora, encostro na janela e o pensamento e os olhos se põem a vagar. Meu próprio rosto impresso na janela do vidro, com brilho transparente me distrai. Fixo meu foco longe e sumo da minha vista, dando espaço para as imagens iluminadas lá fora. Poste de luz, carros parados, brilho do farol, sombras de outrem, um risco de luz veloz, mais uma moto. Faróis do carro iluminam pedestres esperando o verde chegar. O brilho do vermelho escapa do sinal e fica ainda na minha retina, insistente. Agora muda de cor. O seu complementar verde é que vai tomando lugar. Fico brincando com essa imagem latente desviando meus olhos e colocando-a em outro local, na testa de um adolescente espinhudo que acabou de passar pela catraca. Ele me olha e passa batido, a imagem se desfaz por completo. Olho as luzes do Shopping Bourbon lá fora. Iluminam cada vão, várias cores, desenhando os contornos do prédio de forma divertida. Acho que não vou pra casa. Aperto o PARE e a luzinha amarela acende. Acho que dá tempo. Desço rápido, me dirijo para a porta também iluminada do shopping. Profusão de luzes, uma mais vibrante, diferente das outras. As vitrines querem chamar atenção para si, são vaidosas. Nossa vista até cansa, não sabe para onde olhar e fico passeante, como meus olhos, sem conseguir fixar num ponto só. Fastio. Olho para o chão: mármore enceradíssimo, meio rosado, desenhos ornamentais, qual o quê que consigo fugir dos mil brilhos. O reflexo vai desconstruindo todas as luzes em pedaços multifacetados, multiplicando o que antes não era tanto. Fico passeando pelas mesmas luzes, só que agora são distorcidas pelo piso. Meu passo não desacelera. Sei onde vou. Um lugar onde possa fugir desse brilho todo. Chego enfim. Escolho, pago, entro, sento. Ufa, cansei. O escurinho me dá tranquilidade, fecho os olhos para descansar mais um pouco, os últimos reflexos e imagens se desfazem em minha pálpebra fechada e escura. Suspiro e abro os olhos. Como uma explosão, clarão total: a tela se acende. O filme vai começar... de novo!

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Photo by Ariana Assumpção
Queria escrever um livro. Todos momentos chatos, de perda de tempo seriam transformados em palavras. Não palavras vagas, apenas de livre-pensar. Talvez - contradizendo o "livre" -, um pensamento preso flutuando em ideias boas e gostosas. Intrigantes, sem estar na carteira. Pocket-ideas. Contar causos, os meus causos, casos. Meu início, meu princípio.. sem final... Difícil escrever um best seller. Um dia, um adeus, mudança de vida. Eu, solteira de novo, solteira em pensamentos. Nave espacial levando-me pra fora. Fora de tudo. Quero me assassinar em palavras. Vertentes artísticas posam de espertas. Sempre o agora. Sempre. Globalização. Mundos pequenos alçados com passos presentes e sonoros. Pessoas de mundos diversos se mesclam, se misturam formando um amálgama de cabeças e espaços-memória. Espaços-pensantes.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Feliz Ano Novo, Mulher!

Um dia, em uma roda de amigas lésbicas, me fizeram jogar o jogo da garrafa, que nada mais é, não se assustem, o jogo da verdade. E como não poderia deixar de ser, as perguntas sempre versavam sobre o mesmo tema: sexo. Quando o gargalo da garrafa apontou seu bico para mim, a pergunta foi: "Com quais meninas eu transaria daquela roda?" Bom, tola como fui, ainda fresca na relação com esse grupo, fiquei a brincar com meu indicador apontando lá e cá, acolá e ali, deixando algumas pobres preteridas de lado.
Hoje eu faria totalmente diferente. Já deixando a maturidade ao invés da ansiedade falar, discorreria sobre o amor de mulheres, dizendo: "Ficaria com todas, pois para que escolher, se a pretendente no final é a Mulher? Eu amo as mulheres, só por sê-las. Cada flor tem seu perfume, cada rosa tem sua graça,cada fruta tem seu sabor. Sumo suculento, que dá água na boca, seja fruto maduro ou fresco, saberia aproveitar da beleza, do sabor e do aroma de cada diferença."
A mulher é assim se você souber tirar e dar a ela o melhor. Melhor dela e o melhor de si. Jovem, experiente, deliciosamente perfeita ou graciosamente roliça; com um olhar que te devora ou meigo e suspirante; delicada ou voraz na pegada. Tudo isso me faz crer que só vale a pena amar a mulher. Seja ela branca, negra como um tição, magrinha ou rechonchuda, alta ou da minha estatura, pouco importa se o objeto do meu desejo, ou melhor, se o que povoa meus pensamentos, corpo e alma é a mulher.
Quero com ela me deitar e acordar banhada da fêmea, saciada e feliz, pois a fiz também!
Voltando à pergunta inicial, "Com quem transaria...?" Com todas seria a resposta, se hoje e naquela ocasião não estivesse já apaixonada por todas em apenas uma. A mulher que escolhi para viver minha vida inteira. A mulher que para mim personifica todas nela mesma. Me traz em seu olhar ora apaixonado, ora bravo e teimoso tudo o que eu preciso ter sem pedir. Amo-te, mulher nota 1000. Saudades tenho e espero contando regressivamente os dias para te encontrar de novo.
Feliz Ano Novo!